A síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, tem estado cada vez mais presente entre os profissionais de hoje. Como resultado do acúmulo intenso de estresse e tensão emocional, sua origem está diretamente relacionada ao cotidiano laboral de cada indivíduo, e não somente aos quesitos logísticos e organizacionais das empresas, mas também é motivada pelo ambiente físico de trabalho.
Passamos em média 1/3 do nosso dia nos espaços de trabalho, portanto, não é à toa que eles assumem um importante papel na nossa saúde mental. Passada a onda dos home offices que vivemos no decorrer de 2020, temos assistido, hoje em dia, o crescente retorno aos espaços colaborativos de trabalho. Eles têm voltado à pauta como uma alternativa híbrida que permite um distanciamento do âmbito doméstico, consolidando a separação entre as funções, algo mais do que necessário após um ano de isolamento.
A indústria do coworking surgiu em meados de 2005 como uma febre geral. Espaços coloridos, multifacetados e vibrantes se tornaram o desejo de consumo de qualquer profissional que precisa de um espaço de escritório. Entretanto, hoje está cada vez mais claro que somente um espaço descolado não é suficiente para garantir um ambiente de trabalho saudável, física e mentalmente. A neuroarquitetura tem nos mostrado como os ambientes podem influenciar no comportamento humano entendendo as interações entre o nosso cérebro e a arquitetura como capazes de alterar o nosso estado emocional, proporcionando calma, tranquilidade, aumentando a produtividade e concentração, assim como todo o contrário.
Dessa forma, listamos a seguir algumas estratégias de projeto que são imprescindíveis aos espaços colaborativos de trabalho, garantindo o bem-estar pleno dos seus usuários.
Versatilidade do mobiliário
Se o coworking não possui bancadas individuais para trabalhar em pé, hoje em dia, está desatualizado. Já existe até um termo em inglês para isso, standing desk, e seus benefícios, segundo pesquisas britânicas, são inúmeros melhorando não somente a postura, mas também diminuindo o risco de doenças cardiovasculares e até alguns tipos de câncer como de próstata e ovário. A recomendação é trabalhar pelo menos duas horas em pé por dia.
Mas além dos benefícios físicos, um mobiliário versátil contribui para quebra da monotonia do trabalho, possibilitando diferentes interações e mudanças que podem, muitas vezes, aumentar a motivação dos usuários. Estimular a mudança de ambientes ao longo da jornada de trabalho, oferecendo escrivaninhas tradicionais, mas também poltronas, arquibancadas, sofás e mesas altas foi uma das premissas para o projeto do coworking polonês Nest que entre cores e texturas, oferece uma infinidade de assentos e mesas que incitam diferentes percepções do mesmo espaço.
Nessa mesma linha, o The Coven, coworking estadunidense projetado especialmente para mulheres e pessoas não binárias, apresenta uma mescla de diferentes mobiliários marcados pelo uso inesperado de cores e materiais que, por sua vez, refletem a individualidade das pessoas que passam pelo espaço. Ao buscar potencializar as usuárias e criar um senso de comunidade e igualdade, o The Coven possibilita diversas interações e apropriações.
Isolamento x Interação
Outro ponto importante, e que está diretamente relacionado ao desenho dos mobiliários, é a possibilidade de criar espaços de isolamento e interação em um mesmo ambiente, respeitando o momento e a atividade de cada usuário. Além disso, a procura por espaços isolados em coworkings tem aumentado também devido ao risco de contaminação por covid. No Arcoworking, por exemplo, apesar do dinamismo entre os ambientes e do estímulo ao encontro entre as pessoas terem sido essenciais na concepção do projeto, o desenho possibilita também apropriações isoladas. As cabines marcadas pela cor amarela abrigam tanto reuniões com poucos membros quanto atividades individuais, enquanto a grande bancada de concreto promove encontros e acolhe eventos maiores, quando possível.
O Impact Hub Berlin segue o mesmo principio da oferta de diferentes apropriações, desde mesas coletivas até as 'Skype-boxes”. Elas são pequenas cabines individuais que permitem trabalhos isolados ou reuniões por videoconferências construídas em madeira que, além de tudo, traz aconchego e calidez ao espaço, lembrando que as texturas, cores e materiais também são imprescindíveis para um ambiente mentalmente saudável.
Entretanto, vale ressaltar que segundo alguns estudos a medida ideal de uma bancada individual de trabalho é de 1,20 metro, espaços menores do que isso correm o risco de se tornarem claustrofóbicos.
Salas multiuso
Permanecer oito horas seguidas em frente a uma tela de computador pode ser tudo menos saudável, por isso, os espaços colaborativos de trabalho têm focado muito em oferecer diferentes atividades dentro das suas instalações. Elas permitem que o usuário possa espairecer, descansando o corpo e a mente. Muitos coworkings, hoje em dia, possuem salas com som ambiente e ilustrações nas paredes ou observatórios nas varandas, sacadas e terraços com vista para paisagem que possibilitam o relaxamento dos olhos e da cabeça.
Além disso, alguns coworkings também têm investido em espaços de ioga, meditação assim como ambientes de relaxamento com atividades lúdicas e jogos. Um bom exemplo nesse quesito é o Coworking utopic_US, na Espanha. Redes, bolas coloridas e cadeiras suspensas trazem ludicidade ao espaço ao mesmo tempo em que inspiram os criadores, mostrando que tudo ao redor pode ser transformado em algo que ninguém espera.
Entretanto, a ludicidade não precisa estar necessariamente atrelada a diferentes materiais, texturas e cores vibrantes, assim como nos mostra o Loona. Apesar do seu desenho sóbrio, este espaço de trabalho oferece diferentes espaços de relaxamento e distração como a sala iluminada com a luz baixa verde repleta de plantas ou o espaço forrado com colchões no chão.
Biofilia
Claro que falar de saúde mental e não citar a importância do contato com a natureza seria um erro. Por isso, o quarto item desse artigo está dedicado à biofilia. Como uma importante fonte de inspiração que promove o bem-estar, a saúde e o conforto emocional, a sua principal estratégia é incorporar as características do mundo natural aos espaços construídos, como água, vegetação, luz natural e elementos como madeira e pedra. O uso de formas e silhuetas botânicas em vez de linhas retas também é uma característica fundamental em projetos biofílicos, além de estabelecer relações visuais, por exemplo, entre luz e sombra.
O coworking Segunda Casa Holland Park é um exemplo ideal quando se fala em biofilia em espaços colaborativos de trabalho. Primeiro, é importante analisar a forma como se desenvolve a sua implantação. Longe do usual quando se pensa em um espaço de trabalho, nesse projeto são criadas pequenas ambiências que permitem um percurso orgânico por entre as estações. As 18 árvores plantadas em meio às bancadas fortalecem a conexão com a natureza no dia-a-dia do escritório e, por causa delas, grandes claraboias foram instituídas. Mais um ponto para o design biofílico, já que, assim como na neuroarquitetura, a iluminação natural é um dos pilares principais para o bem-estar do usuário, diretamente relacionada a sensações prazerosas, como o aconchego.
Além de tudo, esse projeto é dotado de uma simbologia especial pois abrigou o primeiro escritório de Richard Rogers depois de vencer o concurso para o Centro Pompidou. Por isso, a videira que o próprio Rogers plantou no pátio é um fragmento natural que permaneceu intacto ao longo dos anos e persistiu mesmo após as reformas.
Áreas externas
Muito potencializado também pela pandemia de covid, esse último item tem se tornado uma estratégia importante para trazer o bem-estar mental aos usuários. Ele está relacionado aos itens já citados anteriormente, como a importância em ter espaços de relaxamento e descanso e também a necessidade de se relacionar com elementos naturais. Nesse sentido, as áreas externas nos coworking podem estar relacionadas a pequenos pátios, quintais ou jardins, assim como coberturas. A ideia é que seja possível respirar “ar puro” e entrar em contato com clima externo.
Essas pausas são fundamentais para o bem-estar mental de quem tem uma carga de trabalho de muitas horas ininterruptas e a Pobre Diablo Cultural Factory, em Quito, Equador, é um bom exemplo disso com seus espaços perimetrais de coberturas vazadas que permitem o crescimento da vegetação e a entrada de luz solar.
Na própria neuroarquitetura, os espaços externos vêm ganhando cada vez mais protagonismo, afetando diretamente o cérebro e se tornando tão fundamentais para o seu funcionamento quanto carregar a bateria do celular. Independente do seu nível de paisagismo ou outros elementos naturais, as áreas externas se mostram lugares importantes para se desconectar momentaneamente e recarregar as energias.
Vale ressaltar que muitas dessas estratégias podem, e devem, ser aplicadas em diferentes ambientes de trabalho, incluindo o próprio home office. Independente da escala, o interessante é entender a importância do espaço físico na saúde mental de quem o ocupa e como estratégias pontuais podem melhorar a qualidade de vida dos indivíduos.